A importância do planejamento financeiro de longo prazo para a sustentabilidade empresarial
O cenário empresarial exige, cada vez mais, um olhar estratégico para o futuro, principalmente quando se trata do delicado equilíbrio financeiro. No universo dos negócios, Alexandre Coreia de Quadros, contador e diretor do Grupo Koch e Edemar Fronchetti, presidente do Sicoob de São Miguel do Oeste ressaltam a necessidade crucial de um planejamento financeiro de longo prazo para garantir a estabilidade diante das oscilações econômicas e as preocupações sobre os indicadores econômicos para 2024, especialmente em relação à inadimplência.
Geração de caixa e planejamento financeiro
Coreia de Quadros enfatiza que, independentemente do setor de atuação, a geração de caixa é fundamental para a continuidade dos negócios. Ele destaca que empresas não quebram por falta de lucro, mas sim por falta de caixa. O ciclo operacional, quando desequilibrado, pode comprometer a conversão do lucro em disponibilidade financeira. Nesse contexto, o planejamento financeiro surge como o ponto de partida essencial.
“Empresas não quebram por falta de lucro, elas quebram por falta de caixa. E a empresa precisa fazer a frente aos seus compromissos de investimento e de pagamento de dividendos. Costumo falar que o planejamento financeiro bem feito, ele não garante o sucesso financeiro da empresa, mas sem ele a garantia de fracasso é certa! Então é muito importante que o empresário tenha suas contas muito bem controladas.”
O Ebitda (lucro operacional antes de depreciações, juros e despesas financeiras) é apontado como um indicador-chave para medir a eficácia na conversão de resultados em recursos disponíveis no caixa. O empresário deve manter equilíbrio nas contas de prazo, pagamentos a fornecedores, cobertura de estoque e prazos de financiamentos e vendas.
Ciclo financeiro e políticas cruciais
A análise do ciclo financeiro, influenciado pelas políticas de estocagem, vendas a prazo e compras a prazo, revela a necessidade de capital de giro. É importante alinhar os prazos oferecidos ao cliente, cobertura de estoque e prazo de pagamento ao fornecedor. A busca pelo equilíbrio nessas variáveis é crucial para otimizar o uso dos recursos e evitar desequilíbrios no caixa.
Coreia de Quadros complementa: “Qual seria o mundo perfeito? O mundo perfeito seria com que a cobertura de estoque, mais o prazo que é oferecido ao cliente no recebimento de vendas, a soma desses prazos seja igual ao prazo que ele paga ao fornecedor. Dessa forma, o fornecedor está financiando a operação e a necessidade de capital de giro.”
Necessidade de capital de giro
A necessidade de capital de giro é abordada como um investimento operacional inevitável, variando conforme o tipo de empresa. Em um contexto econômico brasileiro com histórico de taxas Selic elevadas, o empresário deve considerar estratégias para evitar altos custos financeiros. A compreensão do ciclo financeiro e a busca por equilíbrio nas contas podem reduzir a dependência de empréstimos bancários caros.
“O investimento de capital de giro é algo inevitável para quem tem um negócio, seja lá qual for o tipo de negócio que ele tem, se é uma prestação de serviço, uma indústria ou comércio. Mas é importante ressaltar que algumas empresas possuem uma necessidade de investimentos em capital de giro maior e outras uma necessidade de capital de giro menor, devido à como ela trabalhas essas três variáveis que citamos e levando em conta o cenário político e o cenário econômico do Brasil.”
Desafios do cenário econômico brasileiro e o papel do empresário na busca de recursos
Considerando o cenário econômico brasileiro, mesmo em momentos de baixa da taxa, a realidade brasileira sugere uma Selic em torno de 9 a 10%, tornando o empréstimo bancário uma opção onerosa. Quadros ressalta a importância de o empresário compreender seu ciclo financeiro e equilibrar contas antes de buscar recursos externos.
Quadros também destaca que o empresário, muitas vezes, busca recursos sem explorar ajustes internos, desconhecendo o desequilíbrio do ciclo financeiro. Ele enfatiza que, ao entender suas variáveis e ajustar prazos e estoques, o empresário pode evitar altos custos de empréstimos bancários.
A atuação do Sicoob em tempos desafiadores
Fronchetti revela que, mesmo enfrentando uma inadimplência de 1,45%, a cooperativa busca soluções proativas, entendendo as diversas facetas da inadimplência, seja por dificuldades financeiras, acidentes de percurso ou comportamentais.
Cuidados na concessão de crédito
O presidente destaca que o Sicoob se diferencia no crédito de investimentos em atividades produtivas, proporcionando maior segurança mesmo em tempos adversos. Ele enfatiza a importância de manter uma boa gestão financeira e, em momentos de crise, incentiva a continuidade dos investimentos com planejamento estratégico.
A flexibilidade do Sicoob diante de desafios externos
Fronchetti compartilha a prática do Sicoob de criar um fundo de emergência, alimentado pelas cooperativas estaduais, para auxiliar associados em situações adversas, como enchentes. A cooperativa oferece linhas de crédito com juros zero, demonstrando a preocupação com a estabilidade financeira de seus associados.
“Criamos um fundo onde todas as cooperativas do estado de santa Catarina tiram uma parte do resultado durante o ano para esse fundo de emergência. Tivemos recentemente enchentes no vale do taquari no Rio grande do Sul, e captamos junto a central um dinheiro que é do fundo, também colocamos linha com juros zero com até 48 meses para pagar. Com cautela e equilíbrio temos feitos ótimas renegociações muitas vezes no início achamos que não vai dar certo, mas no futuro dá, porque a economia é muito dinâmica que chega a surpreender tanto positivamente quando negativamente.”
O que esperar de 2024:
Em 2024 podemos ter dificuldades, mas temos que ter competência parar para pensar, refazer as contas, negociar cronogramas, remodelar atividade e mudar o foco, pois as coisas vão se ajustar, mas depende de nós nos adaptarmos a nova realidade.
Fronchetti aconselha: ”em épocas de crise não pare de investir, pode ser que tenha que fazer mais contas, mas precisa continuar investindo, o Brasil é um país pujante, sabemos que vai ter crise, mas a economia é cíclica, e muda a toda hora.”
As lições apresentadas por Alexandre Coreia de Quadros e Edemar Fronchetti destacam a importância de compreender o ciclo financeiro, otimizar o capital de giro e buscar soluções criativas para enfrentar adversidades. Afinal, em um cenário de incertezas, a habilidade de adaptar-se e gerenciar as finanças de forma eficaz torna-se um diferencial competitivo fundamental.