CENÁRIO ECONÔMICO INSTÁVEL Saiba quando e quais investimentos são uma boa alternativa para aumentar rendimentos
Já orientamos aqui neste espaço que o momento de alta da inflação e dos juros não é favorável para contratação de crédito e financiamentos que podem acarretar no maior endividamento empresarial e dificultar o controle sob o capital de giro e a manutenção/retomada do crescimento.
Porém, por outro lado, a pergunta que fica é: há ação aconselhável para melhorar os rendimentos neste momento de instabilidade econômica? O diretor da Merlo Educação Executiva e Assessoria de Gestão Empresarial, Roberto Aurélio Merlo, responde: hoje, as grandes oportunidades estão nos investimentos, porém, antes de qualquer coisa, é preciso analisar as opções mais seguras e rentáveis que o mercado financeiro oferece.
“Momentos de instabilidade requerem muita resiliência e conhecimento de mercado, principalmente em relação aos indicadores econômicos, às modalidades de investimentos e em especial câmbio e operações com moeda estrangeira. É a combinação destes detalhes que dirá se vale a pena ou não investir”, ressalta o diretor.
Para o agente autônomo de investimentos, Alex Fagner Martiny, da Genial Investimentos, especialista em auditoria e consultoria empresarial e mestre em administração, a aplicação em modalidades isentas de Imposto de Renda, bem como as indexadas ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) são boas alternativas para o momento. As primeiras por possibilitarem ganhos isentos de imposto de renda e as segundas por assegurarem ganho real (com ou sem tributação) com correção pelo IPCA + taxa fixa. Mesmo assim, também exigem análise minuciosa antes de investir.
Onde investir?
O especialista detalha que o investimento em Poupança está entre as modalidades mais seguras, mas, mesmo assim, não é das mais vantajosas.
“A poupança tem um limitador de rendimentos que é 70% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) quando este está abaixo de 8,5% a.a. ou 0,5% a.m. mais TR (Taxa Referencial) quando a taxa CDI está acima. Isso daria em percentual capitalizado algo em torno de 6,15% ao ano. Podemos encontrar investimentos financeiros no mercado com as mesmas características e segurança, mas com rendimentos que chegam a 13% líquido ao ano. É o dobro”, analisa.
Entre esses investimentos mais vantajosos estão as LCA's, LCI`s – Letras de Crédito Agrícola e Imobiliário, respectivamente – isentas da cobrança de Imposto de Renda e garantidas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o limite de R$ 250 mil por CPF/CNPJ. “Em geral, esses títulos superam o desempenho do CDI, o principal indicador da renda fixa. Ou seja: Uma LCA/LCI poderá entregar um rendimento bem maior, conforme demonstra Martiny nas tabelas a seguir:
Tabela 01: IR Investimento CDB/RDC com 100% do CDI
Prazo |
IR sobre rendimento |
Até 180 dias |
22,5% |
Entre 181 e 360 dias |
20,0% |
Entre 361 e 720 dias |
17,5% |
Acima de 720 dias |
15,0% |
Fonte: BCB (2022)
Tabela 02: LCA/LCI versus CDB/RDC, ambos com 100% da taxa CDI atual 12,65% (R$ 100.000,00)
Prazo |
Montante LCA/LCI |
Montante CDB/RDC |
Diferença |
Até 180 dias |
R$ 106.136,70 |
R$ 104.755,95 |
R$ 1.380,75 |
Entre 181 e 360 dias |
R$ 112.650,00 |
R$ 110.120,00 |
R$ 2.530,00 |
Entre 361 e 720 dias |
R$ 119.563,00 |
R$ 116.139,48 |
R$ 3.423,52 |
Acima de 720 dias |
R$ 126.900,23 |
R$ 122.865,20 |
R$ 4.035,03 |
Fonte: O Autor
Como obter ganhos usando o crescimento do IPCA?
As instituições financeiras também oferecem nas linhas de investimentos títulos indexados ao IPCA, os quais possibilitam ganhos sobre a inflação e sobre a taxa líquida estipulada, aumentando os rendimentos.
“No caso das LCA´s e LCI´s, que não têm cobrança do Imposto de Renda, o ganho é incrementado. Outras opções vantajosas são os CDB´s (Certificados de Depósito Bancário) ou RDC das cooperativas que também são indexados ao IPCA, cujo Imposto de Renda começa com 22,5% sobre o rendimento”.
Outra modalidade citada pelo especialista são as debêntures - títulos de renda fixa emitidos por empresas não financeiras que pagam uma taxa fixa mais IPCA. Na falta de recursos públicos para investimentos, o governo permite que as empresas façam captações no mercado junto aos investidores, isentando-os do Imposto de Renda.
Martiny explica que também existem investimentos indexados ao dólar. Os mais comuns e acessíveis são os fundos cambiais, com valores mínimos estipulados para investimento (R$1.000, R$5.000, R$50.000, etc..). “A remuneração cobrada pelo fundo é uma pequena taxa de administração sobre o recurso investido. Para os investidores que pretendem proteger o seu capital da desvalorização do dólar essa é uma das possibilidades, sem necessidade de investir em moeda em espécie”.
Vale a pena comprar ações no exterior?
Conforme Martiny, para os investidores que não têm tempo para acompanhar o mercado financeiro, desde que cientes do risco e seu perfil de investidor, é um bom negócio investir em fundos de ações BDR’s (Brazilian Depositary Receipt), ou nos próprios BDR’s, que são ações/recibos de empresas estrangeiras negociados no Brasil.
O primeiro passo é abrir uma conta em uma corretora para criar o código na Bovespa e, por meio da corretora, fazer a habilitação do sistema home broker, para a aquisição das BDR´s. Porém, o especialista adianta que este tipo de investimento traz riscos.
“É importante dizer que existem muitos riscos associados a essa modalidade: o risco cambial, que em caso de desvalorização da moeda (Dólar) faz com que as BDR´s também desvalorizem-se; além do risco da desvalorização da ação da empresa lá fora. Por outro lado, em alta, há a possibilidade do ganho duplo, com valorização do dólar e das ações empresa”.
Previdência privada é um bom negócio?
A resposta é “depende” do objetivo do investidor. Segundo Martiny, é sempre um ótimo negócio como complemento de aposentadoria. Nas demais modalidades, é importante escolher o plano mais adequado ao seu perfil.
“Dentro dos planos, possuímos os abertos e fechados que oferecem modalidades como PGBL e VGBL e, em cada um destes, existem dois tipos de regimes de tributação, o progressivo e o regressivo que podem confundir na hora da contratação. Os Planos PGBL são indicados para pessoas que fazem a declaração de Imposto de Renda completa e os VGBL são indicados para pessoas que fazem declaração simplificada ou são isentos, ideal no caso da sucessão familiar, podendo indicar beneficiário sem passar por inventário”, detalha o especialista ao explicar como funcionam os planos de previdência complementar.
“Existe um limitador para utilizar a contribuição ao plano como dedução da base de cálculo do Imposto de Renda. Por exemplo: se a pessoa ganha R$100 mil por ano pode contribuir até 12% da renda bruta tributável anual em planos PGBL, abatendo da base de cálculo, ou seja, R$1.000 por mês. Considerando que a faixa de IR pode ser de até 27,5%, é necessário deixar por mais de dois anos o recurso aplicado em renda fixa para obter este ganho, que no aporte a um Plano PGBL gera resultado na Declaração Anual de IRPF. Na poupança, seriam necessários aproximadamente quatro anos para obter este ganho”.
Independente do investimento escolhido, a orientação dos profissionais é: analise todas as possibilidades, converse com um especialista na área e faça investimentos seguros. “É fundamental saber a direção que está tomando para não errar o caminho”, sublinha Merlo.