Com cenário econômico desafiador, fluxo de caixa e planejamento são determinantes para saúde financeira das indústrias
O momento conturbado da economia nacional e mundial requer muito cuidado e ferramentas de gestão específicas para enfrentar os períodos de instabilidade. A maior preocupação dos empresários está na inflação alta, que tem elevado os juros, impondo corte de gastos e freio em investimentos.
De acordo com a Federação da Indústria do Estado de Santa Catarina (FIESC), apesar de confiante em mudanças no mercado, o empresário está cauteloso com o momento atual da economia brasileira, em relação aos últimos seis meses. A pressão sobre os custos de produção continua se mostrando presente de forma persistente e disseminada sobre as atividades industriais. Soma-se a isso o contexto mundial mais instável decorrente da invasão russa à Ucrânia, que agrava o custo das principais commodities mundiais.
Para o vice-presidente da FIESC, Astor Kist, o cenário econômico exige maior cuidado na gestão dos negócios e atividades, além de planejamento estratégico. Ele destaca que a Federação, a qual congrega 141 sindicatos dos mais diversos segmentos da indústria no Estado, orienta empresários do setor a se prepararem para superar desafios, usando ferramentas de gestão capazes de neutralizar os efeitos impostos pelo cenário.
“A inflação alta não é só uma realidade do Brasil, é do mundo todo, que ainda se recupera da pandemia e que lida com as consequências da guerra. É este aumento nos preços que também eleva os juros, trazendo circunstâncias diversas e dificultando os negócios. Estávamos com uma taxa Selic de 2% e agora está em quase 12%. A pergunta que o empresário faz neste momento é como se preparar e quais ferramentas usar para superar os desafios? É este caminho que indicamos através dos nossos estudos e câmeras setoriais”, sublinha Kist ao incluir Santa Catarina no contexto.
“Apesar da instabilidade, Santa Catarina abriu mais de 64 mil novos postos de trabalho formal no primeiro trimestre de 2022. É o segundo maior saldo de empregos formais do país, atrás somente de São Paulo. Os Serviços e a Indústria vêm sendo os principais motores da economia no ano, devido, principalmente, ao preparo dos empresários e a competência em lidar com crises”.
Confira entrevista com Astor Kist e conheça mais sobre o trabalho da FIESC.
O que fazer?
O diretor da Merlo Educação Executiva e Assessoria em Gestão Empresarial, Roberto Aurélio Merlo, destaca que dois pilares são fundamentais para a gestão financeira das empresas e a consequente permanência no mercado: fluxo de caixa e planejamento financeiro.
“Os juros reais do Brasil são os maiores do mundo e, por isso, se a empresa não tiver capital próprio, paga muito mais. Tendo fluxo de caixa com recursos próprios é possível pagar menos, barganhar com fornecedores e planejar os investimentos com os pés no chão”, ressalta Merlo.
Este foi o caminho seguido pelo empresário Irton Lamb, diretor da indústria têxtil D'Lamb Sport de São Miguel do Oeste/SC, que produz uniformes personalizados. Ele trabalha com fluxo de caixa para no mínimo 90 dias, utilizando recursos próprios para capital de giro, além de um planejamento financeiro para a tomada de decisões de investimentos, visualizando o mercado futuro.
As estratégias baseadas nos dois pilares resultaram em ganhos nas compras, capitalização da empresa e maior eficiência e produtividade, com sustentabilidade de longo prazo.
“Uma das nossas preocupações nesses 30 anos de empresa sempre foi trabalhar com fluxo de caixa relevante, com capital de giro próprio, olhando sempre o cenário econômico dentro de 90 dias. Passamos por várias crises e momentos desafiadores que se não tivéssemos fluxo de caixa e planejamento, com certeza entraríamos em crise, ou teríamos que buscar dinheiro em bancos, pagando juros muito mais altos”, detalha.
A indústria de Lamb precisou de ajustes para enfrentar as dificuldades impostas pela pandemia, quando a demanda por uniformes e eventos despencou. “Ajustamos a empresa, paramos de comprar alguns produtos, deixamos menos estoque de matéria prima, freamos as contratações e remanejamos profissionais. A carta na manga para nos mantermos sempre foi o fluxo de caixa”.
Com isso, a empresa conseguiu comprar matéria-prima em melhores condições e ótimos descontos, tornando-se mais competitiva. “Quanto menos prazo, mais barato a gente consegue comprar a matéria-prima, o que faz total diferença na hora de repassar preços. Antecipando compras, conseguimos preços mais relevantes e nos tornamos mais competitivos, aumentando a margem de lucro”.
Investimento
Lamb detalha que o planejamento financeiro organizou e definiu as metas também para investimento, baseadas nas necessidades da empresa em consonância com o momento econômico vivido. O capital próprio é usado para atender as demandas de produção e os maiores investimentos dependem de análise do mercado para contratação de crédito.
“Investimentos grandes, como construção e expansão só são possíveis quando o mercado estiver favorável. Por exemplo, com a taxa Selic de hoje a 12% não dá para pensar em investir em nova fábrica, é preciso esperar baixar e melhorar a economia”, sublinha Lamb ao chamar atenção também para a realidade interna.
“No inverno, dobramos a capacidade de produção, porque há maior demanda pelo nosso produto. Por isso, no primeiro semestre atendemos a essa demanda e só no segundo olhamos para investimento, planejamento e maquinário, período em que já fechamos o faturamento do ano. Em cima deste faturamento é que fizemos o planejamento do próximo ano e determinamos o fluxo de caixa de 3 a 6 meses para ter capital e reserva já estimados”.
O exemplo do empresário catarinense é visto por Merlo como uma lição de casa aos empreendedores. “São dois fatores primordiais para a saúde financeira das empresas. O que Irton Lamb faz pode ser resumido em uma única palavra, fundamental para qualquer negócio: eficiência”.
Confira entrevista com o empresário.